Gabelia e Mamardashvili: Os reis das balizas georgianas
O Mamardashvili é um guarda-redes muito bom. É constante e não comete erros graves. Apesar de ter apenas 23 anos, já é muito respeitado em Valência. – Otar Gabelia
O nome de Otar Gabelia parece ter sido apagado dos almanaques do futebol e aquilo que em tempos conseguiu alcançar a nível individual e coletivo parece só já estar presente nas memórias daqueles que ainda recordam o que um grupo de rapazes talentosos da região do Cáucaso conseguiu alcançar a 13 de maio de 1981 em Düsseldorf na Alemanha.
Gabelia era o guarda-redes daquela maravilhosa equipa do Dynamo Tbilisi que em 1981 derrotou o FC Carl Zeiss Jena na final da Taça dos Vencedores das Taças na RFA, mas, mais do que isso, era dono de um talento enorme que fez com fosse que considerado o Melhor Guarda-Redes Soviético do Ano em 1979, tornando-se assim no terceiro e último guarda-redes nascido no atual território georgiano a receber esse prémio. Antes dele, só Sergey Kotrikadze e Anzor Kavazashvili tinham recebido tal distinção. Gabelia foi também talvez o único guarda-redes nos “loucos anos 80” a jogar com uma camisola que tinha uma fileira de estrelas a percorrer-lhe as mangas. Otar foi uma figura singular, o próprio afirma ter cometido muitos erros e chegou até a pensar em suicidar-se, mas nada disso belisca minimamente os momentos de glória que conseguiu na sua carreira.
Ironia do destino (ou não) e apesar de todo o seu talento, Otar Gabelia representou a seleção da URSS numa só ocasião, a 21 de novembro de 1979 num encontro de cariz amigável diante da poderosa RFA. Gabelia passou grande parte da sua carreira sénior ao serviço do Dynamo Tbilisi e do Torpedo Kutaisi, mas foi durante a sua primeira passagem pela formação da capital georgiana que conseguiu reunir todos os títulos do seu longo percurso. Uma Liga Soviética, uma Taça Soviética e uma Taça dos Vencedores das Taças fazem dele o guarda-redes georgiano mais titulado da história e só por manifesto azar ou por ter partilhado o período áureo da sua carreira profissional com outro gigante das balizas soviéticas, Rinat Dasaev, expliquem o facto de não ter estado presente no Mundial de 82 em Espanha e até nos jogos de apuramento para o Euro 84, para o qual a URSS não se qualificou.
O pai do Giorgi também era um bom guarda-redes. É meu amigo. O Giorgi é muito humilde e é um rapaz muito trabalhador. Tem o meu apoio. – Otar Gabelia
Onze anos após Gabelia ter pendurado as luvas de vez, nascia, curiosamente em Tbilisi, aquele que poderá facilmente continuar o legado de Otar Amvrosievich, o incontornável Giorgi Mamardashvili. Filho de um antigo guarda-redes chamado Davit Mamardashvili, chegou a Valência em 2021 depois de ter sido considerado o Guarda-redes do Ano na Geórgia no ano anterior e desde então não tem parado de encantar todos aqueles que gostam verdadeiramente de futebol.
É justo dizer-se que o adversário de Portugal no Grupo F do Euro 2024 tem nas suas fileiras (para além dos irreverentes Khvicha Kvaratskhelia, Giorgi Chakvetadze e Otar Kiteishvili), um dos melhores guarda-redes mundiais da atualidade e o único que parece capaz de poder imitar Otar Gabelia, vencendo um troféu internacional a nível de clubes e até, quem sabe, conseguir um dia levar este combinado georgiano a um momento de glória que possa ser comparável àquele conseguido pelo Dynamo Tbilisi em 1981.